Um classico inexplicável
Recomendo
Primeiro me deparei com Clowes em Like a Velvet Glove Cast in Iron e fiquei completamente abismado com o talento desse homem. Então, com Wilson, pensei 'eita, o cara é bom mesmo'. Mas, incrivelmente, a obra mais falada do homem é a mais decepcionante. Aqui, Clowes trata de assuntos próximos aos que abordaria em Wilson: o ódio a si mesmo mascarado de arrogância e superioridade, a solidão, relacionamentos problemáticos, e personagens que penam pra gerar uma minima empatia no leitor. O problema é que tudo isso é muito mais bem trabalhado em Wilson, com as gags a cada pagina, a constante mudança na estética, e o tempo que passamos junto ao protagonista, que acaba se tornando de um babaca para 'o nosso babaca'. Nesse Ghost World os diálogos são os insuportáveis papos de fofocas superficiais, temas futéis de tablóides, egocentrismos de adolescente, e preocupações estúpidas - mas sem a ironia depressiva ou a solidão (que chega a dar dó) de um Wilson - assim, a protagonista torna-se insuportável. Os diálogos com referências culturais nao ajudam também, ao invés de dar alguma personalidade pras personagens, deixa elas citando outras coisas que não interessam e servem só pra reiterar inúmeras vezes 'olhem, elas sao adolescentes, olhem, é sobre essas bandas, esses lugares e essas situações que adolescentes falam'. É justificável, porém, toda essa construção, afinal, Clowes esta tentando tratar de uma espécie de fênomeno social (memes niilistas nem tinham explodido nessa época, incrivelmente, malemal a internet) através de uma história simples e boba. Então a superficialidade, hipocrisia e antipatia das personagens fazem parte da forma cínica com que Daniel Clowes ve o mundo. Portanto, trata-se de um quadrinho coerente, mas, por vezes, insuportável, e que nem chega aos pés do humor ou bizarrice das outras obras do autor que cheguei a ler.
Alexandre
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