O Gótico nacional
Recomendo
Triste pensar naquilo que Álvares de Azevedo poderia ter produzido se não tivesse falecido tão cedo. Demonstrou incrível maturidade literária em juventude. "Macário" e "Noite na taverna" não estavam polidas, sequer finalizadas, e a despeito disso são consideradas grandiosas, uma para o teatro, outra para o conto. Escritor talentoso, ousou abordar temas que ainda hoje são considerados delicados. "Macário" é uma peça teatral dividida em duas partes. Na primeira parte, o personagem Macário, que está viajando, chega a uma estalagem, onde encontra um estranho com o qual inicia um diálogo. Logo esse estranho revela ser ninguém menos que Satã, e leva o protagonista a uma viagem a São Paulo, expondo as partes “podres” da cidade. A segunda parte se passa na Itália e apresenta um novo personagem, Penseroso, que vai se opor a Satã, visto que possui características angelicais. O leitor notará que a primeira parte da peça é uma obra-prima do teatro brasileiro, apresentando maior polidez e acabamento que a segunda. Escrita sob o pseudônimo Job Stern, "Noite na taverna" é uma reunião de contos interligados (seis, no total). Após uma orgia numa taverna, os presentes resolvem relatar situações pelas quais passaram, uma mais “cabeluda” que a outra. Os contos podem ser considerados de horror, um ótimo exemplo de literatura gótica, à maneira de Edgar Allan Poe. Embora sejam distintas, "Macário" e "Noite na taverna" são obras interligadas. Ao final da peça, Satã levou o protagonista a uma taverna, que é a mesma onde os personagens estão narrando suas histórias. Ou seja, tudo está ocorrendo em sincronia! SOBRE A EDIÇÃO Brochura, capa com orelhas, miolo em papel Avena (não está especificado, mas parece), diagramação confortável. Há um estudo introdutório de Antonio Candido, — que também ajudou no estabelecimento do texto, realizado com bastante zelo, — e uma cronologia sobre a vida de Álvares de Azevedo. O estilo do autor foi mantido, por isso a pontuação, às vezes, parece estranha. Atualizaram somente a ortografia — que hoje está desatualizada, já que a edição da Martins Fontes é de 2002. Em meu blog, Anatomia da Palavra, há uma resenha mais completa deste livro!
Alan
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