Os Melhores Contos de Herberto Sales - Grossman, Judith - 9788526003965

BONS CONTOS.

O tom que une todos os contos é a ironia que expõe o brasileiro médio. Pode ter mais dinheiro ou menos dinheiro, mas os personagens do autor são medianos, o que para padrões brasileiros da época quer dizer gente limitada, provinciana. Esse é um ponto, outro ponto é que certos contos envelheceram. O que fecha a coletânea, sobre uma proposta de utilização do avião de passageiros para que fique confortável para todos achei muito chata e datada. Na avaliação geral, é bom livro de contos.

Em julho de 2023 • Via Amazon

Melhores contos de Herberto Sales

O fio condutor dos contos de Herberto Sales é o desconforto dos personagens frente a situações familiares e modos e costumes da sociedade, sejam eles moradores do interior ou das grandes cidades. As estratégias dos personagens para resolução de seus incômodos são ineficazes e, em geral, envolvem algum componente de violência. Alguns dos personagens desistem de lutar com o problema colocado e seguem suas vidas convivendo como desconforto como podem. Os que levam adiante suas estratégias ineficazes de solução acabam criando um problema pior. Tudo isto contado com muito humor e com um estilo que prende o leitor.

Em dezembro de 2021 • Via Amazon

Ironia, simplicidade e mordacidade na exposição da mediocridade do brasileiro

Os contos de Herberto Sales são simples, despretensiosos, geralmente desprovidos daqueles recursos mais complexos usados nos contos para prender a atenção do leitor ou surpreendê-lo. São simples casos, histórias como que contadas por um amigo numa conversa de bar. Por outro lado, são incursões profundas na mentalidade do homem médio brasileiro, em seus problemas e aflições do cotidiano, angústias e preocupações medíocres que, no entanto, escondem um mal espiritual crônico que se traduz, por vezes, na incapacidade de elevar-se acima do mundo material imediato, mas também, vez ou outra, na crueldade pura e simples. A mediocridade pode ser o demônio vestido de cotidiano - é uma conclusão que o autor nos parece sugerir. Mas há também o humor, em doses generosas, o que inclusive pode ser visto como um recurso literário para nos mostrar que uma das componentes de toda essa armadilha diabólica que é a vida moderna é o não levarmos nada a sério. Claro, o bom humor é também uma qualidade brasileira, que está presente aqui, como outros elementos, para reforçar a complexidade do real e abrir um caminho possível de redenção. Tudo isso, e muito mais, reúne-se numa prosa que imita a fala do dia a dia do brasileiro. Ler Herberto Sales é fácil, leve, como conversar com os amigos. E não pense que há, por isso, erros de gramática. O autor consegue aliar o bom português ao registro coloquial, criando uma espécie de terceira linguagem, perfeitamente coloquial e perfeitamente formal. Trata-se de um mestre da literatura, mas um mestre discreto, que não chama a atenção para si senão quando pretende brincar com o leitor ou fazer troça de si mesmo (inclusive citando seu próprio nome no meio de algumas histórias), ocasião em que o faz abertamente. Não é o tipo de autor que nos impõe uma prosa exuberante, da qual se possa dizer que é bela, genial, magnífica. Mas é justamente nisso que reside sua genialidade, pois, examinando-se-a mais atentamente, percebe-se que tudo nela é cuidadosamente trabalhado... para parecer espontâneo. Forma e conteúdo, então, casam-se perfeitamente para efeitos de transparência e empatia. Só o leitor atento perceberá os questionamentos morais e as ironias. Os demais pensarão tratar-se de uns contos bobinhos, tediosos e insípidos.

Em março de 2016 • Via Amazon