Difícil não pela linguagem mas porque é chato mesmo
Recomendo
Acho que é a falta de hábito. Não tenho familiaridade com esse ritmo de narrativa em fluxo de consciência. Apenas com Clarice, mas Clarice Lispector me cativa desde sempre então não vale comparar. Orlando foi difícil porque além das brincadeirinhas do narrador, que vive mudando de assunto ou fazendo piadinhas que não entendo, Orlando é uma personagem chatíssimo. Um porre! Na minha opinião, ele não tem carisma algum. É um rico inocente que não sabe nada da vida e o pouco que sabe (ou acha que sabe) não passa de idealismo romântico e exagerado a um extremo caricato. E o idealismo é tanto que até a grande paixão de Orlando, a jovem russa, é chamada por ele de Sasha. Ele não se importa em perguntar pelo nome real dela, apenas "cria" a sua Sasha e cai do cavalo quando flagra ela no colo de outro homem. Orlando... sempre dando nome às coisas e achando que está inventando a roda e sendo inovador, mas ele descobre depois que é apenas um figurante no Tempo, não o protagonista. Orlando vive nas nuvens até mesmo quando parece ter pisado no chão, e claramente essa é uma critica feroz de VW aos textos biográficos que enchem de pompa a vida pacata de ricos sem graça. É também uma crítica aos ricos britânicos, que acumulam bens e enriquecem sem limites, mas têm uma mente tão rasa que beira a inocência. Uma inocência vaidosa, colonial. E VW ei disso, faz troça. Orlando idealiza todo mundo e isso é comum da classe média (fazendo um paralelo com nossa realidade brasileira). Como essa classe pensa os pobres, pensa o mundo, etc., é tudo permeado de uma ótica ridícula. Orlando, herdeiro, que sempre nadou em dinheiro, construiu uma mansão com mais de 300 quartos (sem serventia alguma) sequer sabe como gastar seu dinheiro. "Num ponto valeu: ninguém denunciou melhor do que VW a ridícula pomposidade da moral e das atitudes masculinas. Foi aí que o seu gênio flagrou a fatuidade e a hipocrisia do macho", e é interessante como Virginia faz isso, usando a fluidez de gênero de Orlando como ferramenta. Ao ser mulher, Orlando vê-se igual, nada mudou, a não ser como a sociedade a enxerga. As hipocrisias se tornam ainda mais visíveis após a mudança de corpo e de gênero. Abraçando aspectos "femininos" Orlando começa a abrir os olhos pra hipocrisia da própria existência até então conhecida, patriarcal e puritana.
Bia
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