Excepcional
Recomendo
Memórias da casa dos mortos - Fiódor Dostoiévski Editora: Martin Claret, 2015 À geração tiktoker: leia, é um livro excepcional. Aos demais, peço perdão, mas o texto ficará longo. Uma bela edição da Martin Claret para esta obra que usei como porta de entrada para ler Dostoiévski. Romance que no fundo é autobiográfico, contando sobre o tempo em que o autor ficou preso num campo de trabalhos forçados na Sibéria. Apesar da narrativa lenta, em primeira pessoa, um livro repleto de reflexões interessantes e que parece não terem envelhecido. Não vou escrever mais, abrindo espaço ao próprio autor. Com vocês, Dostoiévski: "Decerto os presídios e o sistema de trabalhos forçados não corrigem o criminoso, mas tão somente o castigam e preservam a sociedade dos novos atentados desse malfeitor contra sua paz. Quanto ao criminoso, o presídio e o mais árduo trabalho forçado desenvolvem nele apenas o ódio, a sede de prazeres proibidos e uma leviandade horripilante." "O próprio trabalho, por exemplo, não me pareceu tão penoso, tão forçado assim. apenas muito tempo depois percebi que era penoso e forçado nem tanto em função de seu caráter difícil e prolongado quanto por ser um trabalho compulsório, obrigatório, feito à força. Em liberdade o mujique trabalha, quem sabe, incomparavelmente mais, por vezes mesmo à noite, sobretudo no verão; porém ele trabalha para si próprio, trabalha com um objetivo racional e sente-se bem mais à vontade que um detento a efetuar um trabalho compulsório e absolutamente inútil para ele. Pensei um dia que, se quisessem esmagar por completo, aniquilar um homem, puni-lo com a punição mais pavorosa, de maneira que até o assassino mais terrível ficasse tremendo de medo perante essa punição, antes mesmo que ela fosse aplicada, bastaria somente tornarem seu trabalho forçado totalmente inútil e plenamente absurdo." "Há quem ache, por exemplo, que basta o detento ser, de acordo com a lei, bem alimentado e mantido em boas condições para que tudo dê certo. Esse também é um equívoco. Qualquer pessoa, seja ela quem for e por mais humilhada que esteja, vem a exigir, embora por mero instinto, embora inconscientemente, que respeitem sua dignidade humana. (...) Pois o tratamento humano pode humanizar mesmo aquele homem em que a imagem divina se apagou há tempos! São justamente aqueles "desgraçados" que mais merecem o tratamento humano." Eu não esperava que fosse gostar tanto desse livro. Próxima parada: Crime e Castigo.
Fabio
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