Não tem nada a ver com autoajuda
Recomendo
Em "Lições de Vida" Anne nos apresenta a Ire e Maggie, um casal comum de meia idade que se põe na estrada para comparecerem ao velório do esposo de uma amiga de Maggie, é uma viagem de apenas um dia, ele vão pela manhã e voltam a noite e os acontecimentos e sentimentos do dia deles são o tema do livro. Aliás, o livro é dividido em três partes, na primeira nós vislumbramos os sentimentos da Maggie, na segunda os do Ira e na terceira voltamos para os da Maggie, mas então tudo é diferente. E sim, esqueçam essa capa com essa menina, essas montanhas e blá... blá... blá... da capa, eles nada tem haver com a história. O que tem haver com a história é a descrição delicada, sutil e eficiente feita pela autora dos caminhos através dos quais o nosso casal se tornou um casal, como eles são, quem são eles, quais seus anseios, medos e culpas e não, no final não existe uma grande aprendizagem, uma grande mudança, uma grande lição de moral ou algo tipo auto-ajuda... isso não é mesmo do feitio da Tyler. A maior viagem de "Lições de Vida" é uma viagem psicológica, delicada e densa ao mesmo tempo... Eu sempre me pergunto como alguém que escreve em uma linguagem tão simples, tão sem floreios, tão sem "pra que isso" como Tyler, consegue transformar em narrativa sentimentos tão densos. É muito fácil gostar dos personagens dela mesmo que eles não sejam potenciais heróis, ou homens ou mulheres de destaque e coisas do tipo. Maggie é uma mãe de família que trabalha em uma casa de repouso para idosos... é uma pessoa carismática, ativa e meio estabanada. É daquelas que atraem as pessoas para si como um poderoso imã, em um minuto ela não conhece ninguém em dois tem uma pequena multidão em torno dela, falando, tomando chá, compartilhando um pacote gigante de pipoca ou salgadinhos e vida. Ela tem um calor humano incrível, seus dilemas enternecem, é claro que me apaixonei pela Maggie. Mas quem cativou meu coração e conquistou meu amor eterno foi o Ira, marido de Maggie. Introspectivo, sério, meio carrancudo... Enquanto a narrativa está na visão da Maggie, vez ou outra consideramos o Ira meio frio e ausente e nos perguntamos porque ele está com a calorosa Maggie, como ele aguenta tanto movimento quando é tão introspectivo ou como ela aguenta a frieza. Porém, de repente, não mais que de repente, a Tyler apresenta a visão dele, apresenta o coração caloroso do Ira. Meu Deus!!! Não tem como não amar aquele homem!!! Compreendo perfeitamente o sentimento da Maggie, não foram poucas as vezes que o Ira me arrancou lágrimas silenciosas. O amor dele pela Maggie é comovente, a forma dele sentir, interpretar e conviver com o mundo criado pela Maggie e seu carisma envolvente é comovente. O que posso dizer a mais sobre esse livro? Se a vida te encanta, se você ama pessoas, se você gosta de observa-las e perceber como é denso, terrível, luminoso e complexo ser algo como humano e viver entre coisas como seres humanos então vá lá... Ignore a capa tosca e mergulhe no texto de Anne Tyler. Não espere aventuras ou coisa do tipo, apenas abra o coração e leia como se estivesse sentado ou sentada com uma pessoa muito sabia que te conta uma história um pouco longa e corriqueira, mas incrivelmente verdadeira. Lições de Vida, não tem lição de moral ou receita de viver bem, mas tem calor humano, tolerância, uma lágrima e um sorriso para quem sabe se comover com a vida!
Jacilene
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