Um Mestre dos Diálogos
Recomendo
Giacomo Casanova é um sedutor nato, típico de livros de Romance quaisquer. Mas o trabalho que Sandor Márai tem em desenvolver a obra em nada se assemelha àqueles antigos romances de bancas de jornal que tanto fizeram sucesso pelo Brasil. Tal qual outras obras do autor - notadamente em As Brasas - Márai utiliza-se de longos parágrafos para apresentar as ideias e discursos dos personagens, em algo que em muito se assemelha ao Fluxo de Consciência de um William Faulkner ou Virginia Woolf sem entretanto abusar do realismo literário destes ao descrever os pensamentos dos personagens. Casanova, após ficar preso por 16 meses, retorna à sociedade fugindo de Veneza para Bolzano - com um destino duvidoso podendo ser Alemanha ou França seus próximos destinos - aonde deparar-se-á com o Conde de Parma, com quem duelou anos antes, e com sua Esposa, razão pelo duelo de ambos. Apesar de um início supostamente frívolo, sem grandes expectativas, o livro torna-se interesse a partir do momento em que Casanova encontra primeiro com ele, depois ela. Envolvido em uma transação comercial, onde o Conde de Parma solicita ao seu rival que este passe uma noite com sua esposa, em troca receberia dinheiro e passe livre pela Corte Francesa, ambos são surpreendidos pela malícia e astúcia da Duquesa de Parma, que resignada a jamais conceber o seu amor com Casanova, o trata de maneira contundente após ter visto o seu amor ser tratado como baixo, humilhado, digno de uma jogatina entre dois homens que decidiam os seus sentimentos sem a sua presença. Com a mesma qualidade de As Brasas, o livro é recheado de parágrafos longuíssimos, muitas vezes de 3 ou 4 páginas, onde os personagens claramente falam até não se aguentarem mais. Apesar disto parecer monótono em um primeiro momento, Márai é um hábil escritor de longos e profundos discursos, sendo um dos últimos remanescentes desta habilidade tão difundida no século XIX (Balzac, Dostoiévski, Tolstói, dentre diversos outros), finalmente traduzido pela primeira vez para a nossa língua.
Mario
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