Losurdo desmascarando o revisionismo histórico ocidental capitalista
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Losurdo faz sua análise através da citação de diversos autores que considera revisionistas, indicando suas deturpações e omissões históricas intencionais, que se utilizam de diferentes parâmetros de análise histórica de acordo com sua necessidade de justificação ideológica capitalista e liberal. Critica os escritores apologistas do colonialismo e do imperialismo, que tentam colocar no mesmo plano metodológico as grandes potências colonizadoras e os países que sofrem ameaças e agressões constantes destas potências. Trata-se de uma leitura densa, portanto difícil para iniciantes no assunto, mas de grande importância para aqueles que desejam se aprofundar no tema do colonialismo e imperialismo. Em seus capítulos, são pontuados temas como: a tentativa de comparar nazismo e comunismo, sistemas que têm objetivos declarados e formas de atuação muito distintos (um se empenha em perseguir “raças inferiores” e em reviver a tradição colonial dentro da própria Europa enquanto o outro dá impulso ao processo de descolonização, um adere ao ideal fascista de extermínio físico dos inimigos “racializados” enquanto o outro busca o extermínio da burguesia como classe e não fisicamente), enquanto forma de obscurecer a análise dos efeitos do colonialismo; a ligação histórica entre o colonialismo, o racismo e o nazismo; as análises interpretativas incoerentes sobre a revolução “democrática” e escravagista ocidental dos EUA (mantendo a escravidão dos negros, praticando o extermínio dos povos nativos, e posteriormente a segregação racial) comparativamente a revolta dos escravizados de São Domingos (Haiti, o primeiro grande embate entre o ideal da supremacia branca e o da igualdade entre as raças); as interpretações da revolução francesa e jacobinismo sem analisar coerentemente os contrastes internos desta revolução (jacobinos vs girondinos); as crueldades, a miséria e o racismo no colonialismo britânico, seja na Irlanda, Índia ou na África, e as guerras do ópio na China como guerras de pilhagem (com uma drástica redução do padrão de vida do povo chinês, levado a pobreza e dando início ao século da humilhação chinesa diante das potências imperialistas); a falha em se considerar os EUA como uma “potência não colonialista” (vide o extermínio dos povos nativos e a escravidão dos africanos, as anexações de territórios do México, Havaí, Porto Rico e Filipinas); a primeira guerra mundial como um conflito imperialista (um choque entre potências mundiais com seus interesses comerciais e coloniais conflitantes), e a revolução de Outubro de 1917 na Rússia como fonte de inspiração anticolonialista; o antissemitismo e antibolchevismo juntos nas potências imperialistas, e os esteriótipos orientalistas e racistas nos países colonialistas como embriões do nazismo; o racismo explícito nos objetivos de conquista e colonização nazistas inspirados no extermínio realizado pelos estadunidenses na conquista dos territórios habitados pelos povos nativos; as diferenças entre os conflitos contrarrevolucionários e nacionalistas que ocorreram na União Soviética vs. as políticas colonialistas europeias e estadunidenses, a escravidão e os genocídios “esquecidos” ou minimizados pela tradição colonial; a primazia moral e política do Norte do continente americano questionada (escravidão, segregação racial e dizimação indígena muito mais cruel nos EUA do que na América Latina); os EUA pós segunda guerra e sua contradição de “luta por liberdade” enquanto mantêm internamente um Estado de segregação racial e externamente uma ideologia intervencionista de guerras de agressão; a ideologia antirrevolucionária (com seus direitos universais e igualdade abstrata & a manutenção de privilégios e liberdades individuais suprimindo direitos coletivos, a defesa da escravidão e de uma herança aristocrática/feudal); as visões maniqueístas e a seletividade histórica (racismo e genocídios ignorados ou apontados de acordo com a conveniência e a imagem estereotipada dos vencedores) quando analisadas comparativamente as revoluções inglesa, americana, francesa e a bolchevique; a “desespecificação” de certos grupos com sua desumanização para justificativa da violência e métodos cruéis aplicados junto a povos considerados bárbaros; o “totalitarismo seletivo” que não cita o Estado de vigilância e punitivo nos países ditos liberais e suas atuações como Estados bélicos no século XX. Sobre as análises da revolução bolchevique de 1917, são feitas as seguintes perguntas às quais posteriormente são analisadas as diferentes interpretações: um golpe de Estado ou uma revolução social? Um ataque a democracia russa ou ao tsarismo autocrata? Losurdo a vê como um movimento de massas encabeçado pelo partido bolchevique, como uma consequência de uma guerra imperialista (a primeira guerra mundial) e com um apelo anticolonialista e anti-imperialista, que gerou um recalque da historiografia revisionista (de visão maniqueísta dos conflitos internacionais, terreno fértil para o encontro entre revisionismo histórico e neoliberalismo). O autor identifica como um objetivo revisionista reconstruir uma unidade do Ocidente (diga-se EUA e Europa Ocidental) contra a ideologia do outubro bolchevique, identificado pelos revisionistas como “oriental” e bárbaro (com denúncias carregadas de esteriótipos raciais e nacionais). Aponta um padrão na historiografia revisionista de deslegitimação das revoluções anticoloniais (traçando quadros caricaturais das revoluções e seus líderes) enquanto legitimam as guerras neocoloniais promovidas pelas grandes potências ocidentais. Denuncia o tipo de democracia ocidental como “uma democracia para o povo dos senhores”, e diz que o revisionismo ignora a função pedagógica e política do movimento comunista nas lutas anticoloniais e antirracistas (pois se tratam de rebeliões contra a ordem vigente). Acusa de falseamento ideológico ignorar deliberadamente a influência de Lênin e da revolução russa para conquistas como o sufrágio universal, as lutas de emancipação das mulheres, e a ampliação de direitos sociais.
Leonardo
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