Um "Hell" tupiniquim - e isso é um baita elogio!
Recomendo
A primeira coisa que chama a atenção em "Fugalaça" é que Mayra Dias Gomes o escreveu quando tinha apenas 17 anos. A qualidade e a densidade do texto são surpreendentes para uma autora tão jovem. Claro que, de vez em quando, percebemos alguns clichês ou figuras de linguagem primárias, mas tudo perfeitamente perdoável para um escritor estreante. O segundo elemento que se sobressai no romance é o seu realismo: pode-se discordar da protagonista, achá-la uma patricinha fútil em determinados momentos, mas não se pode negar que a história toda é extremamente crível, quase como se fosse mesmo uma biografia. Além disso, é um livro que, lido agora, mais de 10 anos após o seu lançamento, soa bastante nostálgico, evocando muitas referências e situações familiares para quem, como eu, viveu o fim da adolescência/início da juventude nos anos 2000. Eu diria que é a literatura nacional que mais se aproxima do estilo da francesa Lolita Pille, do clássico "Hell" (2002). Ou seja, um puta livro, que me deu vontade de ir atrás dos demais romances da Mayra. Só não dei cinco estrelas porque entendo que o livro podia ser mais enxuto, podia ter tido a mão mais pesada de um editor, que cortasse um pouco de gordura. O "miolo" do romance é basicamente focado numa paixão obsessiva e (quase) platônica da protagonista com um menino que conhece em uma night, e a história desse vai-não vai acaba se arrastando um pouco além da conta, ficando repetitiva e um pouco maçante. Mas nada que estrague o brilho geral do livro, que, como já falei, é muito bom!
Zeka
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