Excelente entrada aos principais temas da filosofia de Foucault
Recomendo
Não estou com muito tempo para fazer uma resenha detalhada deste livro, então vou escrever de maneira apressada. Esta é a versão traduzida para o português do volume dedicado ao Foucault da famosa coleção "Cambridge Companion". Foucault foi avesso à possibilidade de sua obra ser lida de maneira unificada. Para ele, seus textos e livros são como "caixas de ferramentas" e não uma rede conceitual sistemática e coerente. Apesar disto, este livro editado por Gary Gutting cumpre bem o papel de apresentar uma introdução crítica e geral aos principais temas, conceitos e desenvolvimentos da obra foucaultiana. Os dois primeiros artigos são metodológicos e fornecem uma geografia da trama conceitual de Foucault, isto é: esclarecem suas idiossincrasias como historiador; a definição e diferenciação entre arqueologia, genealogia, e problemática; o desenvolvimento do seu pensamento até sua conhecida defesa por uma ética - "estética da existência" -, etc.. Considero estes dois artigos metodológicos uns dos melhores e mais úteis desta coleção repleta de boas sínteses. No que considero uma segunda parte do livro temos artigos sobre algumas obras de Foucault, "História da Loucura", "Vigiar e Punir", "Arqueologia do Saber", "História da Sexualidade" e temas sobre os quais se debruçou, por exemplo, cuidado de si, morte do sujeito (cogito), um tipo de "ética experimental", etc. Há também nesta parte uma curiosa resenha de um dos mestres de Foucault, Canguilhem, sobre a obra "As Palavras e as Coisas" de Foucault. Mas se trata de uma revisão atípica, pois é mais o caso de "pensar junto" com o texto de Foucault do que "escrever sobre" o livro do Foucault. Na terceira parte temos a apresentação da relação da filosofia de Foucault com alguns filósofos que supostamente exerceram influência sobre o seu pensamento e outros, que foram seus contemporâneos, que serviram como interlocutores e críticos. Então temos um artigos discutindo a influência de Heidegger e, principalmente, de Nietzsche sobre o seu pensamento; um longo artigo que faz um balanço do debate entre Foucault e Habermas e que, no final, aponta mais para aspectos convergentes que divergentes entre as duas filosofias. Há ainda um artigo que mapeia a influência do que Foucault chamou de fenomenologia psicológica na sua obra inicial e que posteriormente foi abandonada por ele. Há uma última sessão com tópicos mais gerais que não se enquadram nas sessões precedentes, são eles: um curioso artigo de psicanálise aplicada que discute a relação ambivalente de Foucault para com a obra de Freud; um artigo que discute a relação da obra do Foucault com a modernismo literário e, finalmente, um terceiro artigo que trata da recepção da obra de Foucault por diferentes teóricos do movimento feminista. Embora os artigos aqui abarquem uma grande parte da obra do Foucault, há pelo menos duas ausências notáveis: 1) a relação de Foucault com o marxismo e 2) os estudos de Foucault sobre a evolução do liberalismo e neoliberalismo. Sendo este livro originalmente publicado, se não me engano, em 2003, ou seja, antes da publicação oficial do curso "O Nascimento da Biopolítica" em 2004, é justificada a ausência de 2), mas a omissão de um texto sobre 1) é injustificável. Retirei uma estrela apenas em decorrência das omissões supracitadas. Quanto aos artigos que compõe o livro considero todos de boa qualidade e, diferente do que ouço falar sobre a tradução desta coleção para o português, a tradução me pareceu muito boa.
Rodrigo
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