Conteúdo abrangente, porém, pouco aprofundado
Recomendo
O livro abrange diversos temas referentes à ergonomia, desde a pesquisa, fisiologia, biomecânica e antropometria, até os postos de trabalho, ambientes, processamento de informação, segurança no trabalho, minorias populacionais, vida diária e muitos outros. É uma ótima fonte de consulta, abrindo espaço para outros livros que aprofundam os temas nele presentes, pois o fato de ser um livro abrangente limita o aprofundamento de seus conteúdos. A escrita, clareza e organização dos textos, capítulos e subcapítulos é excelente, e a obra conta com extensas fontes bibliográficas, dignas de um livro acadêmico. Destaco a atenção que o autor deu ao tema das minorias populacionais, ou seja, idosos, obesos, pessoas com deficiência e crianças. Há um capítulo específico para essas minorias. Fisicamente, o livro é muito bem feito; grande, com capa dura, e boa qualidade das folhas. Somente um fator me incomodou na diagramação: as margens laterais das páginas são exageradamente grandes, deixando um espaço vazio que poderia ser melhor utilizado, visto que devido ao livro ser volumoso, o final das frases das páginas esquerda são ocultados na extremidade, nos obrigando a esticar a folha para conseguirmos ler com facilidade. Este ponto não afeta a minha avaliação da obra. Quanto a outros pontos positivos, destaco os seguintes: - com uma visão moderna e social, Iida alerta que “a produtividade deve ser colocada dentro de certos limites, pois o seu aumento indiscriminado pode implicar em prejuízos à saúde, segurança e satisfação (p. 6); - de forma realista, acerca das mudanças e melhorias nas organizações, Iida escreve que “às vezes é necessário adotar certas soluções de compromisso. Isso significa fazer aquilo que é possível, dentro das restrições existentes, mesmo que não seja a alternativa ideal. Essas restrições geralmente recaem no domínio econômico, prazos exíguos ou, simplesmente, atitudes conservadoras. De qualquer forma, o requisito mais importante, ao qual não se devem fazer concessões, é o da segurança do trabalhador [...]”(p. 20); - quanto aos problemas de inadequação antropométrica, o autor alerta oportunamente que improvisações no mobiliário de trabalho podem causar desconforto e colocar em risco a segurança dos trabalhadores (p. 227); - no capítulo de organização do trabalho, Iida apresenta informações corretas sobre os malefícios do trabalho noturno e de turnos rotativos (ver p. 676 e 677) - sobre o processo de envelhecimento, Iida escreve acertadamente que “a atividade constante funciona como tônico para se preservar a capacidade física, psicomotora e mental das pessoas” (p. 688). Quantos aos pontos negativos: - em relação a AET, tratando da formulação do diagnóstico, o autor escreve que “acidentes podem ser causados por […] instruções mal interpretadas” (p. 71). No mundo real de trabalho, acidentes não são causados por esse fator; é a presença de fatores de riscos não controlados no ambiente de trabalho que causam acidentes. Esse pensamento de Iida é normalmente visto em engenheiros de produção (Iida é engenheiro de produção), supervisores e gerentes, mas não em profissionais de segurança do trabalho bem informados; - Iida menciona algumas pesquisas científicas ao longo do livro, mas em muitas delas não cita a fonte na bibliografia; - sobre a teoria da homeostase [do risco], foi dado o exemplo de reforçar os atos seguros, algo como “conceder um prêmio ou um dia de folga para os trabalhadores que completarem certa quantidade de dias trabalhados sem envolver-se em acidentes” (p. 559). Esse tipo de recompensa não é visto como algo positivo na segurança do trabalho moderna, partindo, primeiramente, do fato que a pessoa que se acidenta não planeja ou desejar acidentar-se, e de que a segurança do trabalho deve ser vista como algo obrigatório, e não opcional. Outro ponto de vista contrário essa ideia, é de que o indicador “acidente”, para efeito de bonificação, é limitado ao desfecho (última consequência), e não ao processo de violação de segurança, que muitas vezes não resulta em acidentes; - Na p. 402, Iida considera a conscientização e treinamento de funcionários medidas administrativas de controle de ruído, e isso está equivocado. Medidas administrativas devem, obrigatoriamente, reduzir a exposição a um determinado risco; - Na p. 593, acerca do ritmo circadiano, o autor contraria basicamente a maioria dos estudos científicos que afirmam justamente que o trabalho noturno altera o ritmo circadiano. Iida, equivocadamente, escreve que “mesmo no caso de trabalhadores que trabalham à noite e dormem durante o dia, esse ritmo mantém-se quase inalterado, havendo apenas pequenas adaptações […]; - Na p. 687, referente ao assunto do envelhecimento e ergonomia, o autor escreve algo pouco verídico, totalmente questionável e, talvez, até cômico.”Para dirigir automóveis, essa idade [máxima] pode ser estendida até oitenta ou noventa anos”. Sem comentários. No mais, a obra é vasta, porém resumida em seus diversos temas e conteúdo. Não há aprofundamento nos conteúdos abordados. O livro é bom, e talvez fosse melhor aproveitado se fosse dividido em 3 volumes separados, para um maior detalhamento dos temas.
Victor
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