Angosta - A Cidade Do Futuro - Héctor Abad - 9788535926446

Realidade do mundo atual

Hector Abad foi uma feliz descoberta. Leitura fácil e agradável, mas reveladora de uma extrema sensibilidade. Este romance distópico escancara a realidade em que vivemos, principalmente nos países da América Latina, onde os três andares das nossas cidades estão aí, pra todo mundo ver. Só faltam os muros, as barreiras físicas e os guardas orientais. Entretanto, numa escala mundial, nem estas barreiras físicas inexistem..... há muros, guardas, cães ferozes. Triste realidade.

Em novembro de 2021 • Via Amazon

"A Cidade do Futuro"? Inquietante

Sim. Em termos meramente conceituais é um romance distópico. Ocorre que, dada sua similitude com a sociedade atual, especialmente nos grandes centros urbanos, o que temos é um excelente relato, de cores fortes e um tanto exacerbadas. do que é viver numa dessas megalópoles, especialmente nas dos países do chamado terceiro mundo. Fixemo-nos no conceito-síntese do autor: "Com exceção do clima que é perfeito, tudo em Angosta é ruim. Poderia ser o paraíso, mas se transformou num inferno." Dividida, com fundamento na lei do Apartamento, em três classes, cada uma ocupando local bem distinto. A elite, os "dones", no Paradiso,parte mais elevada, lugar de trânsito restrito; os "segundones" , equivalentes a nossa classe média, ma chamada "Tierra Templada"; os "tercerones", ma "Tierra Caliente", ao pé do Salto dos Desesperados. Assim, numa sociedade em que uns podem tudo e outros, nada. Héctor Abad, excelente escritor colombiano, implantou a sua Angosta aqui na América do Sul, em algum lugar próximo dos Andes. Este o cenário do inquietante romance. Com personagens bem construídos, tipos como os que podemos nos encontrar a qualquer momento, o autor constrói um enredo bem estruturado e histórias que se intercalam a todo momento porque sempre presente a questão do trânsito dos habitantes das diversas partes. Não faltam, como no mundo real, políticos corruptos, grupos armados de resistência, repressão impiedosa e cruenta, traficantes poderosos e, também, clubes de futebol que funcionam como meios de lavar dinheiro sujo. O protagonista, Jacopo Lince, é um homem seco, culto, fixado em sexo, desde que sem qualquer relação afetiva. Dono de uma livraria, auxilia algumas pessoas e é em torno dele e de seus relacionamentos que gira o enredo. Um outro personagem, uma espécie de antagonista de Jacopo, é poeta, o virginal Andrés Zuleta. Em torno deles gravitam diversos outros. Com esse material em mãos Héctor Abad conduz um bom número de histórias, quase sempre interessantes, sem perder de vista a onipresente divisão de classes.. Dois destaques para a técnica do autor. Primeiro que, ao introduzir cada um dos personagens, faz uma espécie de chamada de rodapé onde explica quem é, o que faz, onde vive etc. Isso é muito interessante e ajuda, em muito, a leitura. Outro é o fato de que, de súbito, alerta o leitor para um parênteses que vai fazer no enredo e, a partir da página 199, se dedica a fazer crítica literária, com ênfase nos escritores latino-americanos, sem esquecer de uma rápida e cruel pincelada em Paulo Coelho. Releva destacar que, apesar do tema duro e desesperançado, o autor consegue inserir belos momentos em que o amor se sobrepõe. Não falta instantes de lirismo. Num deles, inusitado, narra aa perda de virgindade de Andrés Zuleta, suas emoções, na sua primeira experiência sexual. Claro que muitas trechos são duros já que violência e morte estão presentes. Nada muito diferente do que estamos habituados a ler, ouvir e ver, nas cidades hostis em que vivemos. Ainda assim tudo é descrito com a maestria que só os grandes escritores possuem. !

Em fevereiro de 2019 • Via Amazon