Não recomendo a compra
Recomendo
____ 1) O livro é simples: 23cm de altura, 16 de comprimento, com papel branco e letra um pouco pequena; há algumas fotografias em preto-e-branco, no meio do volume, impressas sobre o mesmo tipo branco de papel. Os erros de revisão são poucos, quase nenhuns. A primeira edição foi em 1983, esta é de 2008. ____ 2) Comprei com o vendedor “OBA LIVROS” e não tive problemas com a entrega ou com o estado do livro — que era novo e veio no plástico. ____ 3) Quanto ao texto em si, desapontou-me. Luís Viana Filho é celebrado pelas biografias que escreveu, mas esta aqui revela um estilo que passa longe de ser brilhante. Frases talvez nunca relidas em voz alta pelo escritor, como «Eça desvanecia-se de ter inventado almejado e admirado símbolo do seu tempo», deslustram aqui e ali os capítulos; chega a ser enfadonha a insistência do biógrafo em encerrar parágrafos com frases curtas, pretensamente resumitivas, mas que soam forçadas, falsas — por exemplo: «Eça continuaria a rolar a bola de neve». ____ 4) Os grandes pecados desta biografia, porém, são a desorganização e a falta de informações. Há diversos momentos do texto em que perdemos a referência temporal, não conseguindo responder à pergunta: “em que ano estamos?”. Os eventos e episódios assumem o comando, e Viana Filho vai e vem no tempo, rendendo-se a um ímpeto desenfreado por citar cartas e mais cartas do biografado, abandonando o papel de redator a cargo de qualquer biógrafo, privando-nos do guia que nos devia conduzir pela mão. O Capítulo 11 é maçante do início ao fim, em especial porque o biógrafo cita as cartas de Eça sem colocar as respostas de sua esposa, e todo o capítulo trata do relacionamento dos dois. O resultado são quase cinquenta trechos de citação recuada, ao ritmo de dois ou três por página, em fonte pequena e alguns bem longos. ____ 5) Como eu já disse, em muitas passagens, Viana Filho deixa de nos oferecer as informações cronológicas mais básicas. Vou trazer dois exemplos. (I) Na página 221, lemos: «Afinal, Paris! Agosto acabava quando Eça de Queiroz foi nomeado cônsul de Portugal». Agosto de que ano? não sabemos, pois a página anterior falou de 1881, duas páginas antes estávamos em maio ou novembro de 1888, e um pouco antes ia-se a 1885… (II) O mesmo na página 270: «Naquele ano morreu Camilo», diz o biógrafo… E sus! Cumpre ao leitor sair à procura de datas, vasculhando rodapés, tentando encontrar, no vaivém cronológico do biógrafo, qual é o referente do pronome demonstrativo que incrustou naquela frase. Camilo Castelo Branco morreu em 1890. ____ 6) Aproveitei do livro uma visão geral da vida de Eça, dois ou três trechos muito bem escritos das cartas do romancista, e uma ou outra página sobre os processos de trabalho de Eça, que tinha o hábito de alterar muitas vezes seus originais, preferindo sempre trabalhar sobre as provas tipográficas, sobre o texto já impresso em letra de caixa. (Veja sobre isso o link que postarei como comentário.) ____ 7) CONCLUSÃO: O livro não tem grande valor. É uma pena que eu desconheça outra biografia de Eça, mas esta, com certeza, não posso recomendar.
T.
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