O nascimento de Israel e as memórias biográficas de um escritor
Recomendo
Em "De amor e trevas", Amós Oz conta passagens de sua vida, sempre relacionadas ao nascimento e afirmação do Estado de Israel, mas de maneira delicada. Portanto, não temos aqui um livro político, trata-se de um relato de memórias. O interessante é que história acontece sem apelações psicológicas; dessa forma, o autor cria uma narrativa densa, onde as personagens são descritas de forma benevolente, sem, contudo, amenizar o quanto alguns fatos marcaram sua vida de modo não tão bom. Uma das questões fundamentais do romance é que a vida privada de Amós, repleta de situações engraçadas e outras dolorosas, sucediam enquanto a História do século XX era constrúida: o autor passou sua infância e juventude em meio a disputas entre israelenses e palestinos, algo que até hoje acompanhamos e sabemos o quanto é ruim. Em meio a esse contexto, Amós manteve proximidade com histórias e livros. Essa relação foi criada por meio de seus pais, tornando-se decisiva mesmo quando o autor tentou fugir de onde veio e de quem era. A impressão é que a literatura, incluindo a produzida por Amós, é uma das protagonistas do texto, pois mesmo encontros importantes, como a "conversa" que manteve com David Ben-Gurion, e suas paixões fulgazes, como o tórrido relacionamento com uma mulher mais velha no kibutz, foram permeados de experiências literárias. Tudo escrito sempre de forma muito bonita. Amós também nos conta a história de sua mãe, uma pessoa sensível, que precisou lidar com muita dor. Quem sabe, por ter alma de artista, tenha sido difícil para ela viver naquele período complicado: guerra, exílio, assassinatos... etc. Enfim, o amor por essa mulher inesquecível está presente em boa parte do romance. Vale a pena conhecer. Talvez seja interessante parar por aqui. "De amor e trevas" é um grande livro, que merece nosso tempo e reflexões.
Laila
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