Não esperava TANTA qualidade nos roteiros…
Recomendo
São charges e tiras retratando tipos lumpens e acabados, supers, zoofílicos (até o Tarzan é ‘reverenciado’) e virgens, loucos e personagens bíblicos (ri demais na charge do velho Lázaro 😂😂). Aquele típico humor de teste de DNA da década de 00, com linguagem politicamente incorreta e natural, certa visão misógina da época, mostrando cornos típicos: o corno-faxineiro, o astronauta, o ecológico, o esotérico, o corno sabão-em-pó que lava a honra rs, o pontocom, o poupança me poupe me poupe etc, não poupando nem mesmo os deficientes. Tem até mesmo crianças debatendo sexualidade e relacionamentos com suas Mães e as pegando no flagra. Mas que bom que tudo foi publicado fielmente rs Inclusive, há denúncias contra a homofobia. Edição de 2008 (engraçado que já conta com citações ao YouTube, e um humor de problemas com o compiuter à la DILBERT). O traço desordenado de Nani passa a energia ideal para o tipo de publicação; suas mulheres sempre de cílios grandes e rímel, com caras de choro e desespero. E tem alguns cartuns com mais complexidade, ocupando a página inteira. Tem um de uma personagem de cinema pedindo ajuda aos expectadores que é ótima. Os cartuns e charges são entremeados com pequenas crônicas ilustradas.. e ele escreve bem! Linguagem bem orgânica e alguns mais idílicos, como o bonito A DÉCIMA TERCEIRA ROSA; ou escrachados, como o QUILOMBO de maridos fugitivos ex-escravos sexuais: quem se recusa a pagar a pensão dos filhos não pode ir! Ou o da Sogra Frankenstein, um negócio meio Bezerra da Silva. Há os cínicos, como o da cadeira de rodas que morre na sétima vida dos gatos ou da travesti Jupira, uma Cleópatra morta também por causa de sua cobra rs O Sincretismo religioso no Brasil e seus rituais.. a do sr GENGIBRE é sensacional; direta e reta 🤣😂 a da mesa-branca também é punk. Tem umas meio Nelson Rodrigues.. a Vida como ela é! Impossível ler o conto Beatriz e não imaginar uma casa de classe média no Embu, cheia de incensos e carrancas. Sobra até para os céus! É A FAXINEIRA NOVA rs A hipocrisia religiosa tem o seu lugar: o da venda de alma ao diabo é cáustico demais; nem eles o querem! 😂😂 “Há propriedades, entende?”. O do Diário mal-humorado é genial!, metalinguagem pura. “Hoje Renata me abriu novamente para despejar em minhas folhas os seus ridículos problemas. Acho essa garota muito burrinha.” O do Pistom delivery é absolutamente delicado, de uma humanidade ímpar, além de crítica ao neoliberalismo e ao mercado, ao versar sobre o valor da arte (tema perene, em plena pandemia): “Voltei à sala e escrevi 150 reais em poemas, completando assim a quantia pedida pelo músico.” O da aranha que lê cartas e bilhetes para matar o tempo no porão poderia ser de Borges. !!!!… “O porão estava LIMPO!”. O dos espantalhos e milhos é uma aula de como a vida é um ciclo, às vezes permeado de maldade e de que é preciso ter confiança nas próprias atitudes e conceitos. E de como a vaidade constrói e destrói. Uma pequena bula de sabedoria! Ri demais na charge da passarinha indo embora com a casa do caramujo nas costas 😂😂 Tem até mesmo um poema - que geralmente não gosto - sobre uma Iara velha, uma ex-bela deusa das águas que hoje está supercaída e vive em rios e lagoas poluídas, se drogando em meio ao lixo, sem mais encantar os louquinhos. O uso das sombras para mostrar os reais sentimentos das pessoas é sensacional! Fecha com um texto sobre uma vernissage, diálogos prosaicos sobre fobias, e termina numa maravilhosa aquiescência da morte, enquanto vai sendo coberto de volta ao solo.. Poderia facilmente ser um Mutarelli. Maravilhoso.
Luiz
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