Um bom autor, mas um pouco superestimado
Recomendo
Pelo que se dizia do autor, pelo que li em outras resenhas e pelo que Mario Sergio Conti fala na apresentação desta coletânea de contos (que ele mesmo selecionou), desculpem-me, mas considerei que John Cheever é um pouco superestimado. Cheever é esta descrição que Conti faz do tipo de escritor que na época dele era selecionado pela The New Yorker: “O fundador e primeiro editor da revista, Harold Hoss, acreditava que ela deveria publicar contos brandos, que, em vez de espicaçar a inteligência dos leitores, os entretivessem suavemente. Não admitia palavrões, descrições de sexo, violência e ousadias formais. Nesse credo, a dicção pacata de um John Updike ou de um Richard Yates rendiam mais do que os sobressaltos de um Norman Mailer ou de um Jack Kerouac.” Cheever é muitas vezes pacato e melancólico (nem sempre essas descrições são críticas, pois em algumas histórias a pacatez e a melancolia são agradáveis). Outras vezes é abrupto no clímax. Nos contos em que há esses momentos chocantes, ele vem trabalhando num ritmo “papapapa”, de repente nos surpreende com um “PARAPAPA” e aí acaba a história. Se você está se preparando pra dormir, pode ficar assustado com a mudança repentina bem no final do conto. Salvei 9 contos desta compilação: contos de que gostei e que pretendo reler outras vezes. São eles: – Ó cidade dos sonhos falidos – O camponês de verão – Lamento amoroso – O pote de ouro – A temporada do divórcio – O invasor de Shady Hill – Só quero saber quem foi – O general de brigada e a viúva do golfe – O nadador Também marquei trechos de descrições bastante perspicazes do autor, como esta do conto “O general de brigada e a viúva do golfe”: “A sra. Pastern era uma mulher opaca. Sentada na varanda, sentada na sala de visitas, sentada em qualquer lugar, vivia botando para fora as garras da autoestima. Você lhe oferecia uma xícara de chá e ela lhe dizia: 'Nossa, essas xícaras são bem parecidas com um jogo que doei ao Exército da Salvação ano passado'. Você lhe mostrava a piscina nova e ela dizia: 'Então é aqui que fica a sua criação de mosquitos gigantes'. Você lhe oferecia uma cadeira para sentar e ela dizia: 'Puxa, é uma bela imitação daquelas cadeiras Queen Anne que herdei da vó Delancy'. Essas bravatas davam mais pena do que qualquer outra coisa e pareciam informar que as noites eram longas, que seus filhos eram ingratos e que seu casamento era de uma banalidade entorpecente.” Acho que muitos de nós conhecemos alguma “sra. Pastern”. Outro trecho, agora do conto “Lamento amoroso”: “As pessoas se puseram a debandar como se tivesse começado a chover dentro da sala. Tinha, de fato, começado a chover lá fora. Alguém ofereceu a Jack uma carona para o centro e ele não desperdiçou a oportunidade. Joan ficou parada ao lado da porta dando adeus a seus amigos afugentados. Sua voz permaneceu suave e seu comportamento, ao contrário do daquelas mulheres cristãs capazes de evocar novas e formidáveis fontes de compostura em face do desastre, parecia genuinamente simples. Era como se ela ignorasse o bêbado enfurecido às suas costas, que andava de um lado para outro esmagando copos no tapete e dando discurso para um dos sobreviventes da festa a respeito de como ele, Hugh, havia certa vez aguentado três semanas sem comida.” Recomendo o livro, mas sem grandes expectativas para todos os contos. Fiquei em dúvida entre dar 3 ou 4 estrelas, mas como salvei 9 contos (cerca de um terço do livro) e como achei que a nota dele na Amazon está um pouco exagerada pensando na obra como um todo (no momento em que escrevo, a nota é 4,5 após a avaliação de 26 clientes), concedo 3 estrelas.
Barbara
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