Ao contrário do que se espera, não é um livro monótono, de abordagem técnica. A autora narra histórias de pacientes e dela própria, como se fossem contos de ficção. (e não seriam ?) A verve jornalística da autora humaniza os pacientes/personagens e confere fluidez ao texto. São os primeiros indícios de que a autora é melhor jornalista do que terapeuta ! Ao desnudar a sua vida pessoal e acadêmica, a autora expõe a fragilidade de sua formação profissional. Transitando de maneira errática por atividades profissionais distintas, diferentes cursos de graduação, a autora revela, ainda que não tenha sido sua intenção, que a terapia nunca foi uma atividade-fim, mas sim o meio que encontrou para escrever, sua real vocação. Um paciente em potencial que faça uma breve consulta a formação acadêmica da profissional, não poderá confiar sua questão para alguém que perambula por atividades tão distintas como assistente de roteirista , curso de medicina e guinada final para psicologia, já se aproximando dos 40 anos. E mais : além do atraso em sua formação acadêmica, a autora sucumbe ao desejo narcisístico de expor sua vida e a de seus pacientes (ainda que ocultando seus nomes), ao lançar-se como autora de um livro/novela. Não cabe ao leitor julgar a vida pessoal do autor, mas a obra é no mínimo conflitante porque apresenta o trabalho do terapeuta como se fosse um destes programas matinais de TV, onde ‘especialistas’ aconselham o público telespectador com uma avalanche de clichês de autoajuda. Do ponto de vista literário, a obra é de regular para fraca. Do ponto de vista técnico, não contribui com a classe e faz parecer que o terapeuta não passa de um ‘amigo contratado’ , um palpiteiro da vida alheia. Aliás, curiosamente, é essa a definição que um dos personagens/pacientes, confere à autora. A obra não cumpre a função precípua que deveria ter, levar conhecimento útil ao público. Após a leitura, concluo que talvez eu não devesse falar com ninguém ! Ou pelo menos, não com alguém de background tão pífio.